28 fevereiro 2011

Urbino

 

Urbino é uma das mais importantes cidades do renascimento italiano. Situada no topo de uma colina na região de Marche, a cidade ainda conserva as pesadas muralhas que a defenderam de invasores por séculos, exibindo palácios e obras medievais. Historicamente a cidade é famosa pela Universidade Libera fundada em 1506, sede de uma renomada Academia de Belas Artes e do Instituto para a Decoração e Ilustração de Livros.
 

 

 
 

 
No centro histórico, que  é classificado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO, tem destaque a Catedral e o enorme Palazzo Ducale que é um dos mais impressionantes monumentos da Itália. Construído para o Duque Federico di Montefeltro III em meados do século 15, tem inúmeros aposentos.


 
 
 


Decorado com refinado detalhes renascentistas, portas, frisos e chaminés ganharam acabamentos esculpidos e várias salas do castelo refletem a devoção que o duque tinha pelos estudos humanísticos e pela literatura clássica grega. Atualmente no museu está uma Galeria Nacional de Arte com importantes coleções de pinturas do renascimento.

O Duque Federico di Montefeltro III era um entusiasta da arte e da literatura e durante sua corte patrocinou várias obras literárias reunindo em torno de si muitos escritores e poetas. Encomendou a construção de uma grande biblioteca, que era a segunda maior de Itália, tendo por isso sido apelidado de "Luz de Itália". Sua presença foi marcante na história do Renascimento italiano, tendo apoiado muitos artistas plásticos e patrocinado a formação do jovem pintor Raffaelo Sânzio.
 
 


Aos 19 anos Federico di Montefeltro III conquistou a Fortaleza de San Leo e com a morte de seu meio-irmão tornou-se um dos duques mais bem sucedidos da Dinastia dos Montefeltro. Com grande capacidade política, era apreciado pelos cidadãos de Urbino. Hábil diplomata, ele conseguia se aproximar das pessoas mais influentes. 

Embora tivesse excelentes habilidades de comunicação, era um desastrado nos movimentos. Perdeu a visão do olho direito num torneio e posteriormente teve um profundo corte no rosto que o desfigurou pelo resto da vida. Devido à enorme cicatriz, o duque exigia ser retratado somente pelo lado esquerdo. Aos 60 anos Federico Montefeltro III morreu em Ferrara devido à malária, quando participava de uma expedição junto com o Duque de Ferrara Ercole I em 1482. 

A Dinastia dos Montefeltro terminou com morte de Guidobaldo da Montefeltro que não teve filhos, passando o ducado para a família Della Rovere  que era uma família nobre e histórica da Itália. Apesar de sua origem modesta, a família foi promovida socialmente graças ao nepotismo de dois papas que pertenciam à família Della Rovere: Papa Sisto IV e seu sobrinho Papa Giulio II, além dos ambiciosos casamentos que permitiram herdar terras e nobreza.

 
 
 
Giovanni della Rovere casou-se com Giovanna da Montefeltro, filha de Frederico III de Montefeltro. Ele herdou o ducato dando início à dinastia dos Della Rovere de Urbino. Após sua morte, seu filho Francesco Maria I sucedeu-o em 1508, mas devido a conflitos com o Papa a família perdeu o ducado. Após a morte do papa a família Della Rovere reconquistou o ducato, porém o duque foi envenenado e sucedido por seu filho Guidobaldo em 1539.
 
Guidobaldo enfrentou grandes revoltas em Urbino devido ter elevado excessivamente os impostos. Tendo estreitado relações com o rei da espanha, enviou seu filho para aquele país. Porém quando descobriu a paixão de seu filho por uma espanhola, obrigou-o a retornar para Urbino e negociou o casamento de seu filho Francesco Maria II Della Rovere com Lucrécia d'Este, filha do Duque Ercole d'Este II de Ferrara. Ele tinha 35 anos e a noiva 22 anos.
 

Lucrézia d'Este, fundadora da 1a. Instituição do mundo em defesa das mulheres
 
Lucrezia d'Este tinha uma esmerada educação e muita cultura. No entanto, no dia do casamento ela foi arrastada de forma humilhante pelo marido indo morar em Urbino. A duquesa tinha permissão para visitar a família em Ferrara e numa dessas viagens ela viveu uma secreta história de amor. Quando seu irmão Alfonso II descobriu o caso de amor resolveu silenciar o escândalo matando o amante da irmã.

Porém Lucrézia não quis voltar para o marido e pediu autorização da Santa Sé para uma separação. O Papa não decretou a separação, mas permitiu que ela vivesse em Ferrara separada do marido. Ela dedicou-se à vida espiritual e faleceu em 1598, porém deixou sua marca na história. Em 1580 ela fundou a primeira instituição no mundo para defender as mulheres que sofriam violência de seus maridos e parentes.




Após a morte de seu pai, Francesco Maria della Rovere II assumiu o ducato em 1574 e foi um dos mais amados duques de Urbino. Conforme a tradição, ele deveria ter um filho que o sucedesse. Depois do fracasso de seu primeiro casamento, ele casou-se novamente com sua prima Livia Della Rovere que era 36 anos mais nova. Em 1605, em meio a uma grande festa, nasceu o herdeiro masculino Frederico Ubaldo. 

Em 1621, quando o herdeiro completou 16 anos, seu pai casou-o com Claudia de Medici e abdicou do trono elegendo-o Duque de Urbino. Infelizmente o rapaz morreu 2 anos depois devido a um ataque epilético deixando apenas uma filha. Sem esperanças de ter um herdeiro masculino, o velho Francesco Della Rovere II foi obrigado a entregar seu ducado para o papa. Ele morreu em 1631, terminando assim a dinastia Della Rovere em Urbino.


 
 

Por não haver mais herdeiros da família Della Rovere, o Papa Urbano VIII decretou a devolução do ducado aos Estados Pontifícios. A grande biblioteca de Urbino foi removida para Roma e adicionada à Biblioteca do Vaticano. 

A Catedral de Urbino foi fundada em 1021, tendo sido expandida durante o Ducado de Federico II e a construção definitiva só foi concluída em 1604. Foi destruída por um terremoto em 1789 e reconstruída com a nova cúpula.


Na cidade há outras diversas igrejas, como a Igreja de San Giovanni Battista, a Igreja de Sant'Agostino, a Igreja de San Francesco e o Oratório de São José que tem duas capelas. Numa delas há um presépio naturalista do século 16.
 


 



A cidade tem um dos conjuntos medievais maiores e mais bem preservados dentro da sua área murada. O acesso à cidade é feito por algumas portas como a Porta Santa Lucia, a Porta San Bartolo, Porta Lavagine e a Porta Valbona.
 
Considerada a mais importante, a Porta Valbona encontra-se na Piazza Mercatale tendo sido construída em 1621 para celebrar o casamento de Federico Ubaldo della Rovere e Claudia di Medici. Sobre a porta há uma inscrição dedicada aos noivos.  Há outros palácios muito interessantes, como o Palazzo Albani, o Palazzo Odasi e o Palazzo Passionei.
 
 


 
  
A Fortaleza Albornoz, conhecida como La Fortezza, foi construída no século 14 no ponto mais alto de Urbino. Atualmente é a sede da Academia de Belas Artes sendo um local que permite ter um panorama da cidade.  Recentemente a fortaleza passou por uma revitalização, tendo sido descoberta uma passagem que chega à Porta Valbona e o Palazzo Ducale.
 

 


Urbino também é a cidade natal do pintor renascentista Raffaello Sanzio (1483-1520), que pintava figuras nas paredes da casa onde morava com sua família quando era jovem. Seus primeiros trabalhos estão pintados no quarto onde morava. Raffaello aprendeu as técnicas de pintura com seu pai que era um pintor da corte. Posteriormente a casa onde morava perto do Palazzo Ducale foi transformada em museu.

 

Em Schieti, um vilarejo de Urbino, acontece em junho o Palio dei Trampoli ou Corrida de pernas de pau, uma festa tradicional da cultura popular italiana. O Schieti era um castelo que marcava o cruzamento entre três cidades: Pesaro, Montefeltro e Urbino, onde passava o rio Foglia, que era uma passagem obrigatória de trabalhadores, operários de minas e de olarias.

Para atravessar o rio estes trabalhadores usavam pernas de pau. Isto deu origem ao Palio dei Trampoli de Schieti, uma festa popular muito singular que acontece em junho. O objetivo é repetir todo ano a experiência dos trabalhadores acrobatas, com homens jovens e velhos ágeis das aldeias que formam o centro histórico da cidade. Organizado há doze anos, premia o campeão da corrida com uma garrafa de vinho e uma forma de queijo. Ao final da corrida, o público pode experimentar as pernas de pau, sob os cuidados de um instrutor.  

Durante o evento é relembrado o antigo artesanato do ferreiro, o cesteiro, o sapateiro, o oleiro, que trabalhava em cobre, couro e muitos outros. Além disso, exposição e feiras, tabernas, comidas típicas e apresentações artísticas seguem após a corrida. Com o evento busca-se resgatar e fortalecer as raízes da família, e promover maior socialização. Uma viagem de volta no tempo para encontrar todos os cheiros, sentimentos e emoções, quase esquecidos.
 

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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.