08 janeiro 2014

Narni, uma cidade encantada

 



De origem muito antiga, Narni está situada numa colina na região da Umbria junto ao desfiladeiro por onde passa o Rio Nera. 

Segundo o historiador romano Tito Lívio, ali existia uma aldeia conhecida como Nequinum. 

Depois que os romanos conquistaram a cidade em 300 a.C., eles acharam o nome da cidade de mau augúrio, pois Nequinum significava "lugar inútil".






E assim os romanos resolveram mudar o nome da cidade para Narnia, que posteriormente passou a ser chamada de Narni. 

Após a queda de Roma, a cidade foi disputada e invadida pelos lombardos e outros povos. 

Foi construída, destruída e reconstruída diversas vezes por estar estrategicamente localizada na Via Flaminia, uma estrada que ligava Roma ao Mar Adriático.






Assim como outras pequenas cidades da região da Umbria, o centro histórico de Narni mantém sua aparência medieval. Suas ruas estreitas são margeadas por construções de pedra que estão empoleiradas numa colina.



  


No sopé da montanha cresceu a parte moderna da cidade junto ao Rio Nera e a ferrovia. É nessa parte que está a estação do trem, que é um dos meios de se chegar até Narni.




Narni floresceu entre os anos de 1100 a 1300, época em que adquiriu grande riqueza e poder. 




Nessa época foram construídos belos palácios e igrejas medievais, além de praças com fontes que constituem o ponto de encontro da população. Algumas fontes que estão espalhadas pela cidade são da época romana.  




Porta Ternana

Na antiguidade a entrada na cidade era feito através de 6 portas: Porta Polella, Porta Porta Romana, Porta Pietra, Porta Votano, Porta della Fiera e a Porta Ternana, também chamada Arvolta, que era a entrada ao longo da via Flaminia. Construída em meados de 1470, Ternana é formada por um grande arco ladeado por fortes torres.





Ponte de Augusto

Um destaque fora da cidade é a Ponte de Augusto, que foi idealizada e construída no ano 27 a.C. ao longo da Via Flaminia. 

Na época a ponte servia para atravessar o desfiladeiro sobre o rio Nera. Foi citada através dos tempos como uma verdadeira obra prima da arquitetura romana e calcula-se que originalmente a ponte tivesse 160 metros por 8 metros de largura. 

A grandiosa obra desabou em 1055, tendo restado um arco da ponte com aproximadamente 30 metros de altura.




Palazzo dei Priori



Palazzo Comunale ou Palazzo del Podestà

Duas praças se destacam no centro histórico. Na Piazza del Priori, de um lado está o Palazzo dei Priori com suas grandes arcadas e uma grande torre. 




Do púlpito ao lado eram lidos os decretos na época medieval. Do outro lado está o imponente Palazzo Comunale ou del Podestà, que tem na fachada esculturas em alto relevo.




esculturas em relevo no Palazzo Comunale

Conta uma lenda que nos tempos medievais havia um inoportuno Griffon. Embora estivessem em guerra, as duas cidades se uniram para derrubá-lo. 

Como um troféu, Perugia ficou com os ossos que deu origem a seu símbolo Griffon branco e Narni ficou com a pele, um Griffon vermelho que aparece no emblema da cidade e em esculturas nos prédios.




Piazza Garibaldi

A Piazza Garibaldi, antigamente conhecida como Praça do Lago, tem uma grande fonte octogonal da Idade Média e é ladeada por belos palácios. 

À frente está a Catedral que teve iniciada sua construção em 1047, mas só foi consagrada em 1145. Ela é dedicada a San Giovanale que foi o primeiro bispo da cidade, cujos restam mortais jazem no oratório de San Cassius.




Catedral 


Catedral



Via Mazzini / Igreja Santa Maria Impesole

Na Via Mazzini, que era a rua das residências nobres de Narni, está a Igreja de Santa Maria Impesole, que tem destaque devido às suas áreas subterrâneas contendo restos de uma antiga igreja e de construções romanas. Construída em 1175, o nome "em pensulis", deriva da sua localização em um terraço.







Narni subterrânea


Tribunal da inquisição



Narni subterrânea

Nas imediações da Via Mazzini está o Complexo religioso de San Domenico com sua área subterrânea, que permite voltar no tempo quando os romanos construiram tanques para guardar água potável e aquedutos. 

esse local há uma igreja que foi escavada na pedra entre os séculos 12 e 13 com belas pinturas como a Coroação de Maria e San Michele Arcangelo.

Também há um ambiente que antigamente foi usado como Tribunal da Inquisição, onde estão expostos instrumentos de tortura na época e as masmorras onde eram mantidos os prisioneiros acusados de heresia. 

Nas paredes das celas os prisioneiros registraram testemunhos dramáticos e outros símbolos que contam a sua história.





Igreja de San Francesco

A antiga igreja de San Francesco possui vários pilares com afrescos. Há capelas em cada lado da igreja, uma delas é a Capela Eroli decorada com afrescos da vida de São Francisco. 

Ao lado da igreja está o Palazzo Eroli, que foi uma residência da família Eroli. No local funciona o museu da cidade, que contém uma exposição arqueológica e o arquivo histórico.





Igreja Santa Pudenziana

Há muitas outras igrejas e complexos religiosos em Narni; seja da época medieval quanto construções em estilo mais atual. 

Fora da cidade tem destaque a Igreja de Santa Pudenziana, que é uma das mais antigas e mantém preservados alguns sinais nas paredes, provavelmente feito pelos templários.





Abazia San Cassiano

O Speco franciscano, a poucos quilômetros de Narni, é um santuário fundado por São Francisco de Assisi onde ele fazia pregações e costumava se refugiar para fazer suas orações. 

Imersa no meio de um bosque está a Abazia Beneditina de San Cassiano, um complexo religioso construído no século VIII e que ainda mantém sua magnitude.





Rocca Albornoz

Na parte mais alta da cidade tem destaque a Rocca Albornoz que dá imponência ao centro histórico. O local é usado para eventos e exposições permanentes e do alto das suas torres tem-se uma bela vista panorâmica.

Na Idade Média, muitos soberanos e pessoas ricas deixavam suas propriedades para a igreja em troca de missas que facilitasse sua entrada no céu. 

Uma delas foi a Condessa Matilde de Canossa, que ainda jovem tinha se tornado a única herdeira de uma vasta propriedade, que abrangia as principais cidades da Itália desde Parma, Lucca, Pisa, Firenze, Siena, Arezzo, Peruggia, Grosseto até Viterbo.

Ela foi uma das mulheres mais influentes da Idade Média, tanto por suas realizações militares quanto por seu apoio à igreja. 

Embora tenha se casado por duas vezes, ela não teve herdeiros. Quando faleceu em 1115 todos os seus bens foram herdados pela igreja de Roma, inclusive Narni que fazia parte das possessões da condessa.




Fonte Feronia

A fortaleza foi constrúida em 1360 pelo Cardeal Albornoz como um símbolo do poder papal. Em 1525 a história de Narni mudou radicalmente, quando as tropas de Carlos V arrasou a cidade e dizimou a população. 

Essa foi uma pausa irreparável na história da cidade, que teve de enfrentar uma longa reconstrução. Abaixo da fortaleza está a Fonte Feronia, que na antiguidade teria sido um templo de adoração da deusa Feronia.






Corsa all’Anello

Entre o final de abril e começo de maio é realizado em Narni a Corsa all’Anello, uma reconstituição medieval que ocorre durante a celebração de San Giovanele, padroeiro de Narni. 

Esse festival remonta a 1371, quando eram realizados rituais e jogos. Os três bairros são representados por seus cavaleiros, que tentam acertar com suas lanças um anel de metal suspenso.






O festival conta com desfiles de 600 figurantes trajados com roupas medievais que percorrem as ruas do centro histórico. 

Durante a festa todas as tabernas são abertas, quando se pode degustar a focaccia e pratos tradicionais antigos num autêntico banquete medieval, enquanto grupos tocam músicas da Idade Média. Toda a cidade é enfeitada com bandeirolas e o mercadinho medieval completa o cenário.






Há alguns anos, uma série de livros infanto-juvenil lançada pelo escritor irlandês Clive Stapleton Lewis fizeram o mundo voltar os olhos para Narni. 

Embora as estórias de "As Crônicas de Narnia" sejam fictícias, muitos jovens associam a cidade de Narni aos episódios da série e até encontram semelhanças: como leão e as esculturas mitológicas que aparecem em alguns pontos da cidade, o castelo, as águas do Rio Nera e o glifo que faz parte do emblema de Narni.

Na verdade as estórias de Lewis são baseadas em suas próprias experiências. Nascido na Irlanda em 1898, durante sua infância o escritor morou numa casa enorme onde brincava de esconde-esconde junto com seu irmão. 

Durante sua juventude na Inglaterra, Lewis tinha que embarcar em trens para chegar à escola e durante a Segunda Guerra Mundial muitas crianças foram levadas para outros lugares, que são fatos utilizados em sua obra.

Ele foi ateu por muitos anos até converter-se em 1929, podendo-se observar claros paralelos cristãos, apesar de usar figuras ligadas ao paganismo e citar rituais de magia  e ocultismo. 

Em diversas ocasiões nos romances da série, Lewis transformou alguns fatos e acontecimentos históricos mundiais em ficção. Algumas vezes o autor usou alguns exemplos como crítica ao comportamento da humanidade e atos praticados pelo homem.  






Quando escreveu "O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa", ele não tinha intenção de produzir uma série de livros. Porém, incentivado por amigos, como Tolkien autor de "O Senhor dos Aneis", Lewis resolveu criar a série de sete livros, que foi escrita durante quatro anos entre 1950 e 1954.

O nome da série foi escolhido a esmo num atlas, simplesmente porque ele achou que soava bem o nome. O sucesso foi tanto, que sua obra foi traduzida em 41 idiomas, lançada em diversos países e transformada em filmes de Walt Disney. Em 1963, Lewis morreu em sua casa em Oxford.


 



A série serve como inspiração para conduzir a reflexões sobre conduta, ética, fé e religião entre outras questões que sempre instigaram os filósofos antigos e contemporâneos. 

Já tendo encantado milhões de leitores nos últimos 60 anos, Lewis descreve acontecimentos mágicos vividos por quatro jovens que entram num guarda-roupa e chegam num fantástico mundo plano, onde o oceano tem água doce e o céu encontra com o mar.







Nesse mundo cheio de magias, uma feiticeira decreta inverno perpétuo, os animais falam e figuras mitológicas ganham vida nas batalhas travadas por centauros, unicórnios, faunos e gigantes. 

As rochas são criaturas vivas e as estrelas algumas vezes andam pela terra fazendo predições. No sol há flores de fogo, cujo extrato tem o poder de ressuscitar os mortos e é entregue a Papai Noel num frasco de diamante. No mundo de Narnia tudo pode acontecer...



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Quem sou

Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.