30 junho 2017

Firenze 2 - Piazza della Signoria




Piazza della Signoria

A Piazza della Signoria em Firenze marca o coração político e social da cidade, evocando séculos de grandeza e poder. Composta pelo Palazzo Vecchio, a Loggia dei Lanzi, a Fonte de Netuno e para onde convergem as principais ruas da cidade, há séculos nessa praça acontecem os eventos mais importantes da cidade.

As famosas esculturas dessa praça tem referências a acontecimentos políticos da cidade, tal como o monumento equestre do Grão Duque Cosimo I, feito por  Giambologna em 1595. Além de celebrações, nessa praça também aconteceram fatos dramáticos, como a "Falò delle Vanità" ou "Fogueira das Vaidades".




Em 1497 o Frade Girolamo Savonarola incentivou a população a queimar  objetos de luxo, joias, espelhos, cosméticos, roupas, livros, manuscritos de peças musicais, quadros, mesas de jogos e tudo que fosse supostamente pecaminoso. 

Conta-se que cópias do Decameron de Bocaccio e obras de Ovídio foram queimadas e até o próprio Boticelli foi obrigado jogar alguns de seus quadros no fogo. Porém no ano seguinte, Savonarola foi acusado de heresia e queimado vivo numa fogueira, como lembra uma placa de mármore colocada em frente à Fonte de Netuno.



Piazza della Signoria / Fonte de Netuno

Chamada pelos fiorentinos de "il Biancone" e admirada principalmente pela perfeição das formas, a Fonte de Netuno foi a primeira fonte pública de Firenze e se tornou um símbolo para a história da cidade. Situada à frente do Palazzo Vecchio, foi feita em 1574 por Bartolomeo Ammannati e representa as vitórias navais da Toscana.



Piazza della Signoria / Palazzo Vecchio

Sendo o centro do poder em Firenze, ao longo dos anos o Palazzo Vecchio teve diferentes funções, dependendo do período histórico e político. Atualmente no palácio está a sede da Prefeitura de Firenze e o restante das instalações é usado como um museu.

A magnificência do palácio, tipicamente medieval, deve-se em grande parte ao design do arquiteto Arnolfo di Cambio. As fundações estão assentadas sobre um antigo teatro romano. A construção foi erigida em 1299 sobre as ruínas de um palácio, que havia pertencido à família Gibelino Uberti, expulsa da cidade antes anos devido a questões políticas, situação referida por Dante Alighieri na sua Divina Comédia.




O conjunto de brasões na fachada é um testemunho único da Firenze Medieval e o seu equilíbrio de poder, traduzido em símbolos e referências. As paredes são ricas em inscrições e placas, algumas com indicações triviais de cidadania, tal como aquela que proibe o uso de água da Fontana del Biancone ou Fonte de Netuno.

O mais curioso desses registos, atribuído tradicionalmente a Michelânglo, é a face esculpida de um homem condenado à morte numa das muitas execuções que ocorreram na Piazza della Signoria. Ao longo dos anos o palácio teve diversas denominações. Inicialmente o palácio foi concebido para acomodar os priores e os Gonfaloniere di Giustizia, corpo governativo supremo de Florença, que mais tarde foram acomodados no Palazzo del Bargello. Nessa época era chamado Palazzo dei Priori.

Em meados de 1540 Cosimo I de Médici mudou para o palácio, que passou a ser chamado Palazzo della Signoria. Com o auxílio de artistas como Vasari e Buontalenti, expandiu o palácio e duplicou seu tamanho. Quando Cosimo I mudou sua residência para o Palácio Pitti em 1560, o passou a ser chamado Palazzo Vecchio ou Palácio Velho.




Na praça tem destaque a réplica da escultura de David, cujo original esteve naquele lugar até 1873 e hoje encontra-se na Galeria da Academia. Ela representa o triunfo sobre a tirania, através do personagem bíblico, sendo uma das obras mais famosas e consagradas de Michelangelo. 

Considerada como um grande marco do Renascimento, o grande destaque da escultura é a perfeição anatômica e o predomínio das formas curvas, uma das características de Michelângelo. 

Executada entre 1501 e 1504, a escultura tem 5,17 metros de altura e se tornou um dos grandes símbolos de Firenze. Outra é a escultura de "Hércules e Caco" feita por Baccio Bandinelli, que retrata a vitória sobre a maldade, um dos episódios dos Doze Trabalhos de Hércules da mitologia grega. 




São cinco as entradas do Palazzo Vecchio, incluindo a Porta della Tramontana, a Porta della Dogana e a Porticciola, ligada a uma escadaria secreta e construída para garantir um ponto de fuga nos turbulentos anos do governo. Em cima da porta de entrada há um painel decorativo em mármore de 1528 com o Monograma de Cristo ao centro.




Ladeado por dois leões, no alto há uma inscrição “Rex Regum et Dominus Dominantium” ou seja "Jesus Cristo, Rei dos Reis e Senhor dos Senhores". No pátio encontram-se símbolos das corporações de Firenze e uma fonte com uma estátua de um pequeno anjo com um golfinho - o Putto com Delfino de Andrea del Verrocchio.




Outros dois pátios existentes são: o Cortile della Dogana que acomoda a bilheteria do museu e o Pátio Novo. A riqueza do interior deve-se à genialidade do arquiteto Giorgio Vasari, que também concebeu o Salone dei Cinquecento, o Studiolo de Francesco I, os aposentos de Eleonora e os outros elementos. Cada sala do palácio é rica em história e segredos, alguns dos quais ainda não desvendados.




O magnífico Salone dei Cinquecento foi encomendado por Girolamo Savonarola no curto período em que deteve o poder, antes de ser queimado vivo como herético m 1498 na Piazza della Signoria. Na appella dei Priori Fra Savonarola fez sua última oração antes de sua execução. Muitas decorações do palácio foram encomendadas pelo Grão-Duque Cosimo I.



Por ter estudado sob o patrocínio dos Medicis, Giorgio Vasari era constantemente convocado para realizar as diversas obras. Os maravilhosos afrescos que decoram o teto, assim como as decorações do hall, são ricas em símbolos e referências religiosas que pretendiam exaltar a grandiosidade de Cosimo I e o poder dos Médici. Algumas das obras-primas presentes no palácio são o "Gênio della Vittoria" de Michelângelo e o famoso ciclo "Fatiche di Ercole" ou "Trabalhos de Hércules.




Localizada no primeiro andar do edifício, o Studiolo de Francesco I é uma obra-prima de Vasari. As outras magníficas salas do museu tem o nome dos senhores e senhoras nobres que fizeram a grandeza da Casa de Médici ao longo dos séculos: Papa Leão X, Papa Clemente VII, Cosimo - o Velho, Lorenzo - o Magnífico, Cosimo I e Giovanni dalle Bande Nere, o único da família Medici que era um condottiero. 



A Sala da Audiência e a Sala dos Lírios estão ricamente decorados com obras de Benedetto da Majano, Ghirlandaio e portas de madeira com imagens de Dante Alighieri e Petrarca.A Sala dos Mapas Geográficos era o local onde os Médici guardavam os seus bens mais valiosos, sendo hoje onde estão maravilhosos mapas geográficos e um famoso globo. A Vecchia Cancelleria ficou conhecida por receber Niccolò Machiavelli, enquanto foi Secretário da República florentina. 




A atual aparência do Palazzo Vecchio resulta de muitas alterações complexas que sucederam ao longo dos séculos. Conta-se que a torre é descentralizada porque o projeto aproveitou uma torre que existia anteriormente. Do alto de seus 95 metros pode-se desfrutar de um panorama de 365° sobre a cidade.

Chamada "Torre di Arnolfo", data de 1310 e esconde um compartimento que foi utilizado como cativeiro de Cosimo - o Velho, condenado ao exílio, e de Savonarola, condenado à morte em 1498. Um dos três sinos da torre, afetuosamente apelidada de Martinella, é muito caro aos fiorentinos porque sempre teve a função de chamar os cidadãos para as assembleias.



Loggia dei Lanzi

Situada ao lado do Palazzo Vecchio, a Loggia dei Lanzi foi construída entre 1376/1382 para abrigar as assembléias do povo e realizar cerimônias públicas. Acima de seus arcos, na fachada da Loggia estão as alegóricas das quatro virtudes cardinais: a Fortaleza,a Temperança, a Justiça e  Prudência.




Entre muitas esculturas da Loggia, tem destaque "Perseu segurando a cabeça da Medusa", uma espetacular escultura de bronze feita por Benvenuto Cellini entre 1545/1554, que servia de advertência para aqueles que eram contra os Medicis.

Tendo demorado 10 anos para concluí-la, para sua construção Cellini derreteu 200 pratos de estanho, mais panelas e frigideiras, além de seus móveis domésticos que serviram como lenha para aquecer o forno. Porém ficaram faltando três dedos no pé direito, que foram adicionados anos depois.

Ali também está "O Rapto das Sabinas", uma escultura feita em 1583 por Jean de Boulogne, mais conhecido como Giambologna. As três figuras entrelaçadas foram esculpidas em um único bloco de mármore.



Marzocco, o Leão da Loggia


Os leões em frente à Loggia foram encomendados para adornar a igreja durante a permanência na cidade do Papa Martin V. Em 1576 o Grão Duque Ferdinando I de Medici levou os leões para ornamentar os majestosos jardins da Villa Medici. Porém, quando a vila foi herdada pela Casa de Lorena em 1789, os leões foram trazidos de volta para Firenze.

Estátuas de leões são vistas em Firenze desde a Idade Média, sendo o leão heráldico, também conhecido como o Leão de Marzocco, um símbolo que representa a República livre de Firenze. Esculpido por Donatello no início do século 15, os que estão na Piazza Signoria são apenas cópias; os originais encontram-se no Museu Bargello. Também pode-se encontrar diversas versões do Marzocco no Museo dell'Opera de Santa Maria del Fiore.

Dizem que o estranho nome Marzocco provém da palavra Marte, cuja estátua foi levada pela inundação do Arno em 1333 e tinha servido como emblema de Firenze. O leão sentado tem sob uma pata o brasão de Firenze, com a Flor de Lis, chamada pelos fiorentinos de Giglio - o lírio. Não só estátuas de leões, mas também criaturas reais fizeram parte da história da cidade.



Na época romana, perto da atual Via Ghibellina e Via Verdi, ficava o anfiteatro chamado Parlascio, onde se realizava os jogos de gladiadores e a encenação das caças de animais. Os animais eram mantidos em gaiolas adjacentes ao Parlascio. Por volta de 1280 os fiorentinos mantiveram um leão vivo perto do Batistério. De acordo com a lenda, um leão escapou uma vez e agarrou uma criança, mas o devolveu ileso a sua mãe. Desde então, os leões também foram vistos como um símbolo de boa sorte e proteção para a cidade.

Posteriormente as gaiolas com os amimais foram removidas para a área atrás do Palazzo Vecchio. Cerca de 24 leões foram mantidos lá até 1550, sendo talvez por isso que passou a ser chamada Via dei Leoni. Tempos depois, a jaula foi transferida para a Piazza San Marco, onde atualmente esta localizada a Universidade de Firenze e ali permaneceram ate que Pietro Leopoldo di Lorena em 1777 pos fim à criaçao de leões em jaula.

A partir disso, os leões passaram a surgir em estátuas, em várias formas, como o leão que segura o álamo no topo do Palazzo Vecchio ou guardando a entrada da Loggia dei Lanzi na Piazza Signoria. Diz uma lenda bizarra e divertida, que os prisioneiros de guerra eram obrigados a passar em fila atrás da estatua do Marzocco e diante de uma grande platéia deviam beijar a estátua, porém debaixo do rabo, um ritual de humilhação.



Capodanno Fiorentino

Ao lado da Loggia há uma inscrição em latim celebrando a mudança do calendário fiorentino em 1749 para ajustar ao calendário romano, que foi decretado pelo Grão-Duque da Toscana, Francesco II de Lorena. Assim o Ano Novo passou a ser celebrado em 1 de Janeiro.

Antes o Ano Novo fiorentino iniciava em 25 de março, data considerada como dia da concepção de Jesus e que originou o nome dos meses: setembro (7º mês) outubro (8º mês, novembro (9º mês) e dezembro (10º mês); mês de nascimento de Jesus. E Firenze sempre foi muito dedicada ao culto da Virgem Maria, e em particular a Santissima Annunziata.

Além da celebração sagrada, o dia 25 de março também tinha um significado profano que indicava a chegada da primavera, a estação do renascimento da terra muito amada pelos agricultores. Por isso os fiorentinos continuam a festejar a tradição e ainda hoje em Firenze celebra-se o Capodanno Fiorentino. A cada ano nessa data a cidade organiza um desfile histórico, com muitas pessoas vestindo trajes medievais, além da apresentação dos sbandieratori de Firenze.



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Nascida em Belo Horizonte, apaixonada pela vida urbana, sou fascinada pelo meu tempo e pelo passado histórico, dois contrastes que exploro para entender o futuro. Tranquila com a vida e insatisfeita com as convenções, procuro conhecer gente e culturas, para trazer de uma viagem, além de fotos e recordações, o que aprendo durante a caminhada. E o que mais engradece um caminhante é saber que ao compartilhar seu conhecimento, possa tornar o mundo melhor.